As áreas da tecnologia têm tido crescimento notável nos últimos anos. De acordo com uma pesquisa publicada no site da IDC (International Data Corporation) ocorreu um crescimento de cerca de 7,6% somente na T.I. (Tecnologia da Informação).
Abordar um discurso de inclusão de gênero deveria ser uma tarefa fácil, porém, apesar dos números mostrarem um crescimento, a quantidade de mulheres na área da Tecnologia da Informação, é significativamente menor do que a de homens.
Diversos motivos são apontados, no entanto, os que ficam em maior evidência são: cultura, falta de incentivo e estereótipos.
Um estudo de gênero feito na (UPF – Universidade de Passo Fundo) em 2016 aponta que uma turma do curso de análise e desenvolvimento de sistemas teve 43 concluintes no ano de 2015, sendo eles 41 homens e 2 mulheres. Um número completamente desbalanceado, mas justificado em todos os artigos disponíveis na internet e que abordam o tema acima.
Por que isso acontece?
Meninas são estimuladas na primeira infância com brinquedos como bonecas, fogão, panelas e maquiagem (simulações feitas de plástico e produtos estéticos reais), que têm um apelo ao cuidado e os deveres domésticos. Isso explica o porquê de haver uma taxa maior de mulheres em cursos como, por exemplo, enfermagem, psicologia e pedagogia.
Já os meninos têm contato com carrinhos, video-games, jogos de tabuleiro, que instigam o raciocínio lógico e matemático. Os objetos estimulantes mencionados têm uma influência direta nas escolhas feitas na vida adulta.
Esses não são os únicos fatores a serem considerados. Diferença salarial, falta de credibilidade na fala, assédio. Em geral, os ambientes de trabalho nas áreas tecnológicas são mais hostis para as mulheres do que para os homens.
Os desafios são muitos já que as mulheres precisam constantemente reafirmar uma frase, são interrompidas durante um atendimento, seja porque a pessoa do outro lado não deseja ouvi-la ou para repetir o que ela estava explicando com palavras diferentes ou de forma semelhante, minando a confiança e aumentando as taxas de desistência nos cursos voltados às tecnologias e diminuindo cada vez mais candidaturas a vagas de emprego.
Infelizmente é comum encontrar mulheres no mercado de trabalho que sofrem com situações parecidas com estas.
Os resultados da desconfiança sobre as competências e orientações repassadas são apresentados através da Síndrome do Impostor, que faz com que o indivíduo sinta que não pode concluir uma tarefa ou que não merece estar onde chegou, pois, é uma farsa. Ou seja, não tem mérito por suas conquistas. A síndrome pode atingir a todos, mas é muito mais comum em trabalhadores das áreas da tecnologia, principalmente em mulheres.
O sentimento de insegurança é muito presente mesmo em mulheres que têm uma carreira solidificada e são bem sucedidas, seja por receio de não serem boas o suficiente ou por medo de sofrerem assédios.
Uma matéria do Tribunal Superior do Trabalho mostra que mulheres são mais propensas a sofrerem assédio no ambiente de trabalho do que os homens. Em contrapartida, a falta de provas sobre os acontecimentos fazem com que os responsáveis permaneçam impunes.
Se a insegurança faz parte do dia a dia nos ambientes de trabalho, o que pode ser feito para que essa situação mude? Políticas para incentivar a denúncia, apoio psicológico para quem sofreu o abuso e um ambiente mais acolhedor e seguro pode tornar a qualidade de vida da profissional dentro do escritório ou em outros locais muito melhor.
Projetos que buscam mudar essa realidade
Existem diversos projetos voltados ao gênero feminino que têm como intuito engajar mulheres que querem seguir nas áreas tecnológicas.
InfoPreta é uma empresa criada em 2013 pelo afro-empreendedor Akin Abaz com o objetivo de inserir minorias dentro do Mercado da Tecnologia. Os principais serviços fornecidos são: manutenção de hardwares, softwares e a montagem, e manutenção de computadores gamers.
Girls in Tech é uma organização criada em 2007 pela executiva e ativista na área de tecnologia Adriana Gascoigne que desde então promove cursos e empregos das áreas deste âmbito ao redor do mundo. No Brasil o projeto foi instaurado no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
Desprograme é um Projeto criado pela desenvolvedora Cristina Luz em meados de 2015 para promover diversidade, inovação, empoderamento feminino e de minorias na área da Programação.
Women Up Games é uma empresa criada em 2014 por Ariane Parra que é “Talent Sourcer” na Wildlife Studios. A princípio era um projeto com a missão de trazer mulheres para o mercado de games, esse projeto cresceu e se tornou uma empresa que visa o empoderamento das mulheres e a quebra do estereótipo de que videogames são apenas para meninos e homens.
Minas Programam é um projeto criado em 2015 por Ariane Corniani, Fernanda Balbino e Bárbara Paes que introduz mulheres na programação de forma totalmente gratuita, focando no incentivo a participação de cursos e oficinas.
Mesmo com as empresas, organizações e projetos voltados para diminuir cada vez mais a diferença destes números, os movimentos precisam de apoio, divulgação e força. Grace Hopper que foi almirante e analista de programas da Marinha dos Estados Unidos, criadora da linguagem base para o COBOL chamada Flow-Matic e tem uma frase que se aplica fielmente aos dias atuais: “A frase mais perigosa é: sempre fizemos assim”.
Então assim como Hopper, uma mestra em sua área e que acreditava na inovação, a nossa sociedade também pode acreditar, que daqui a alguns anos, as mulheres que no passado estavam tão presentes nas faculdades e empresas, voltem a fazer parte igual e equilibrada nas áreas tecnológicas, agregando em conhecimento, sabedoria, cultura e diversidade.